Numa tarde de quarta-feira, em que o nevoeiro reinava nos céus, o Artur e a Carlota foram visitar o avô.
Vivia numa casa muito velha, com os portões a cair, silvas a rodear e
estava tudo sujo, isto porque o avô não tinha paciência nenhuma para
limpezas.
Era um velho desajeitado, com o cabelo grisalho e uma
grande barba, sempre olhando de lado, com aquele ar desconfiado. Artur e
Carlota achavam-no estranho, não só pelo aspeto, mas também pela
invulgar maneira de contar histórias. Nessa tarde, contou a mais
assustadora de todas!
O velho lá começou a falar, com a sua voz meio rouca:
- Foi naquela noite de 1965 que a aventura começou. Eu e os meus
camaradas piratas partimos em busca do tesouro perdido. A vida a bordo
era dura! Os meus marujos içavam as bandeiras e velas, recolhiam as
cordoalhas e eu ia para a proa, observar o mar longínquo … No entanto, o
mais difícil ainda era percorrer aquelas milhas todas, navegar naquele
rumo incerto, em busca da recompensa…
O avô deu um suspiro solene e continuou:
- Do outro lado do oceano, não sabíamos o que nos esperava. De
repente, apareceu um navio com um bando de jovens. Entre eles, a capitã,
uma jovem de cabelos loiros e olhos verde-mar, rebelde como o vento,
que não sabemos quando vai e quando volta. Já eu a conhecera em tempos
de criança. Fui eu que a incentivei a seguir os caminhos do mar…
Carlota interrompeu, muito excitada:
- Como se chamava essa linda jovem?
O avô prosseguiu com a sua história:
- Carlota, minha filha, chamava-se Concha! Essa jovem rapariga
invadiu o meu barco, com o seu bando, e roubou todas as provisões.
Disparei um tiro de canhão, que tinha mais raiva do que pólvora,
acertando mesmo no escaler onde Concha navegava…
Os netos estavam aterrorizados, mas o avô continuou a aumentar a curiosidade.
- Mais tarde, quando fui buscar o que me pertencia ao seu navio, os
meus olhos brilharam ao ver o tesouro que andara à procura há anos.
Levei-o, imediatamente, para o meu barco.
Quando estávamos todos a bordo, e dançávamos, cantávamos e bebíamos, um dos meus homens, gritou: ’’Terra à vista!’’
O Artur ficou muito contente, pois aquela era uma das suas frases de alto-mar favoritas, mas deixou o avô continuar:
- Atracámos numa terra que não me era estranha: aquele cheirinho a
palmeiras que nunca me saíra da cabeça! O que mais me custava era ter de
explicar o que tinha acontecido à mãe de Concha, pois estava na sua
aldeia.
Artur interrompeu o seu avô, perguntando em pulgas:
- E foste contar? Conta, avô, conta!
O avô respondeu:
- Custou-me bastante, mas era o mais acertado! Mas, primeiro, fui
aproveitar alguma da minha fortuna a um café. Por meu azar, a mãe de
Concha estava lá!
A senhora veio ter comigo, perguntar-me pela
filha! Passou-me um cabo pela garganta! Não conseguia falar! Mas sabia
que tinha de ganhar coragem. Então, lá lhe contei tudo, todos os
pormenores. A senhora chorava de raiva. Foi horrível aquela sensação…
Pensei, pensei, pensei e voltei a pensar, até que me apareceu uma lâmpada na cabeça: “fazer uma festa funerária!”
Passado uma semana, fui eu o último a discursar: «Concha era uma
guerreira destemida! Sempre com a sua alma de marinheiro! Sabia comandar
seus marinheiros e a sua alma, portanto saberá para onde ir agora!…»
Maria Cassilda Silva e Mariana Coutinho, 6ºJ
Fonte da imagem: quimicamenteimpuro.blogspot.com