Há pessoas e há momentos que nos
marcam. Neste Dia do Pai, o texto da Eva, escrito no âmbito da disciplina de
Português, é uma prova de que os ensinamentos transmitidos pelas pessoas de
quem gostamos perduram.
Primeira
Tentativa
Esta história não é feita de palavras, é
feita de coração. É uma história sobre o meu pai. Podes achar este um tema
muito banal, mas tem uma razão: ter um pai é ter algo especial. O meu pai
sempre me apoiou. E recordo especialmente bem o dia em que construiu o meu
primeiro arco.
Vou contar-te como aconteceu.
Há cerca de quatro anos, o meu pai levou-me a um
“terreno baldio” para aprender a disparar com o meu novo arco que havia
construído com um ramo de marmeleiro.
Eu disse arco, mas, terei dito flechas?
Não, não as referi até agora por uma razão simples: não fizemos flechas!
Então, ele decidiu que iríamos começar do
zero e com 7 anos iria construir o meu primeiro arco, e desta vez com flechas.
Demorou muito tempo e o esforço foi
tremendo, o que cabia ao meu pai era tudo o que envolvia cortar; de resto fiz
tudo sozinha.
Passámos então ao treino. Não acertei em uma
única laranja.(Ah, sim! O meu pai sempre foi um pouco sovina e aproveitou-se do
facto de estar abandonado para fazer cair as laranjas do terreno com as
flechas, e, assim se arranja laranjas de graça!).
- Pai! Nunca hei de conseguir! É mesmo
impossível! - exclamei revoltada.
- Vais conseguir, vais! Não tínhamos arco
nem flechas e tu conseguiste fazê-los a partir daqueles ramos. Improvisa, sê
criativa e ultrapassa cada barreira como só tu consegues. Descansa um pouco, bichinho!
– retorquiu sabiamente o meu pai como sempre faz.
Vi-me debaixo de uma árvore a descansar.
Vi-me a voar como os corvos e as pombas. Vi-me a correr com os linces. E depois
desta inspiração animal, levantei-me e continuei.
No fim do dia sempre furei duas laranjas,
que, para desgosto do meu pai, não caíram.
Agora, mesmo que viva numa corda bamba, sei
que o meu pai é a rede que me protege e guia se eu cair.
E,
disse-me este homem sábio que a vida tem dois lados e eu, não vivo em nenhum
deles. Vivo como só eu sei, mas para isso há que ultrapassar as barreiras do
lado mau com criatividade e aceitar as oportunidades do lado bom, mas pensando
sempre à minha maneira, pois só assim sou independente. E ser independente, não
é só à primeira tentativa.