ECOS DO JORNAL MOLICEIRO Nº2

Hoje, dia 13 de abril de 2016, publicamos a versão integral da entrevista com Catarina Carneiro, voluntária num campo de refugiados. Esta entrevista foi realizada por um grupo de alunos do Clube de Jornalismo no passado dia 22 de janeiro e em parte publicada no 2º número do JORNAL MOLICEIRO. 
Hoje, dia 13 de abril de 2016, devido ao encerramento das fronteiras e ao acordo entre a União Europeia e a Turquia, foi encerrado o campo de refugiados de Slavonski Brod onde a nossa entrevistada e as suas duas amigas realizaram um trabalho de voluntariado que nunca mais esquecerão.
 
“Não há uma prioridade. Primeiro os pobres, 
depois os desempregados, depois os refugiados. 
Não!!! Todos são pessoas!”

Catarina Carneiro, psicóloga, 34 anos, decidiu sair do conforto da sua casa e do seu consultório e ir, com duas amigas, Vera Batista, 39 anos, e Maria João Caseiro, 27, para um campo de refugiados na fronteira da Bósnia com a Croácia.

Como teve a ideia de fazer trabalho de voluntariado junto dos refugiados? 
Andávamos inquietas com esta grande crise e decidimos fazer qualquer coisa. 


Como conseguiu arranjar dinheiro para este projeto? 
Com a minha prenda de aniversário. Gastei menos de 300 euros.


Pode contar-nos a sua experiência? 
Decidimos criar um movimento (People Need People – Pessoas Precisam de Pessoas) e fomos para a Croácia, mais precisamente Slavonski Brod. Fizemos o contacto com uma ONG (Organização Não Governamental) Croata e criamos o movimento cívico PNP (People need People) a fim de podermos receber donativos com os quais pudemos fazer várias compras, de acordo com as necessidades dos refugiados. Quando chegamos ao campo de refugiados, verificamos que apesar das ótimas condições, capacidade para 10 mil pessoas, com aquecimento, estava vazio. Porquê? Porque as 2500 pessoas que passam por dia não param. Estão ali umas horas e continuam o seu caminho. Quando verificamos que só podíamos ver as pessoas em andamento e havia grades e polícias entre nós e eles, percebemos como era importante entendermo-nos com os polícias. Andávamos com garrafas de termos com café que distribuíamos aos refugiados e… aos polícias. 


Qual é a importância do voluntariado para os refugiados? 
É muito importante. Na Grécia por exemplo, como muitas ilhas aonde os refugiados sírios chegam são rochosas, os voluntários andam de lanterna na mão a sinalizar pessoas no mar e a ajudá-los a vir para terra. Outros atiram-se mesmo para a água para salvarem os que não sabem nadar ou estão exaustos. Outros voluntários fazem espetáculos. O nosso trabalho consistia em ver o que lhes fazia falta. A maior parte estava bem vestida. Muitos homens tinham sapatos rotos e encharcados. Por isso compramos essencialmente sapatos, meias, luvas e gorros.   


Qual foi a sensação de ajudar os refugiados a encontrar uma nova vida? 
Não ajudamos a encontrar uma nova vida. Ajudámo-los apenas a fazerem a passagem da melhor forma possível. Só podiam estar dois voluntários nas tendas. Limitávamo-nos a sorrir e a dizer em árabe “Salaam Aleikum” (Que a Paz esteja contigo). 


Há muitas famílias separadas? 
Sim. Fugindo em barcos de borracha sem nenhumas condições de segurança, pelos quais cada pessoa paga 7 mil euros, muitos morrem pelo caminho. Na Macedónia, por exemplo têm de esperar quatro dias ao ar livre, ao frio. Muitos não sobrevivem. 


Pode descrever-nos alguma situação que a tivesse chocado? 
Sim. Vi um senhor parado a chorar. Pedi ajuda a um intérprete para saber o que se passava com aquele senhor. Tinha perdido a mulher e os filhos. Um polícia simpático deixou-o entrar no campo. Meia hora depois saiu todo contente com a mulher e os filhos. Continuava a chorar, mas trazia um enorme sorriso. 

O que nos aconselharia a fazer para ajudar os refugiados? 
Sempre que encontrem um colega ou amigo pouco sensível, tentem falar calmamente com ele. Ajudem-nos a fazer uma pesquisa na Internet sobre os refugiados, por exemplo, no sítio http://www.refugiados.pt/  ou em https://www.facebook.com/Plataformadeapoioaosrefugiados/
 

Muitas pessoas dizem que devemos primeiros ajudar os nossos pobres e só depois que devemos preocupar-nos com os refugiados estrangeiros. O que acha? 
A essas pessoas, respondam: “Vai ajudar os pobres!”. Eu já dei consultas gratuitamente. Já ajudei muitas pessoas necessitadas. Não há uma prioridade. Primeiro os pobres, depois os desempregados, depois os refugiados. Não!!! Todos são pessoas! People Need People!

Que atividades de voluntariado sugere aos jovens? 
Podem ajudar-se uns aos outros. Imaginem que têm um colega que anda mais desanimado com a escola. Porque não o convidam para fazer os trabalhos de casa? 




Entrevista realizada no dia 22 de janeiro de 2016 por David Pinto (5ºB), Inês Gonçalves e Maria Fernandes (5ºG), Clube de Jornalismo da Escola João Afonso de Aveiro.
Fotos: Catarina Carneiro